Tem a certeza de que sabe o que os seus filhos fazem quando não estão ao pé de si?


Há dias, li um artigo jornalístico, do qual desafortunadamente perdi o link, acerca de uma investigação efetuada por cientistas canadianos e americanos, cujo tema se centrava nas causas dos comportamentos desviantes das crianças/adolescente/jovens.
Contrariamente ao que se poderia pensar, as famílias desfuncionais não são a única, nem a principal origem  destes comportamentos. Uma das conclusões deste estudo identificava como principal causa a não integração da criança/adolescente/jovem entre os seus pares, num grupo de referência.
Obviamente, o meio familiar é fundamental na transmissão  de valores morais e sociais e, consequentemente, na construção da personalidade  dos jovens. 
Mas, aparentemente, o isolamento e a marginalização destes pelos seus pares, poderá mais facilmente conduzi-los a comportamentos antissociais, desadequados e/ou a ter tendência para se integrarem em grupos marginais, pois a necessidade de se sentir integrado, valorizado ou respeitado é uma característica intrínseca do ser humano e essa integração é uma fonte de equilíbrio psicológico e emocional. 
Todos nós conhecemos casos de jovens provenientes de lares disfuncionais ou mesmo vítimas de abusos e maus tratos familiares que, ainda que marcados por essas circunstâncias, conseguem construir vidas estáveis e encontrar o equilíbrio e a paz interior, pois, de alguma forma, tiveram a capacidade de descobrir referências em que se apoiaram.
Os comportamentos desviantes são originados, acima de tudo, por determinadas características pessoais, psicológicas, psíquicas e emocionais, pela incapacidade de integração social ou por traumas graves.
E, é neste ponto que faz sentido colocar-lhe a questão que dá título a este artigo: 
- Tem a certeza de que sabe o que os seus filhos fazem quando não estão ao pé de si?
O seu filho/o sente-se integrado na escola? Participa em atividades desportivas, culturais ou artísticas?
O seu filho/a tem amigos? Conhece-os? Sabe do que gostam e o que costumam fazer quando estão juntos?
Não, não advogo que se arme em detetive e vá no encalce do seu filho/a para descobrir o que anda a fazer, nem tão pouco que se torne no amigalhaço que acompanha o filho para todo o lado, como se também fosse um jovem.
O seu filho/a precisa e tem direito ao seu próprio espaço, privacidade e intimidade. 
Persegui-lo será sempre um último recurso, só justificável em situações de extrema gravidade.
Imiscuir-se no seu grupo de amigos, como se fosse um deles, pode ser extraordinariamente constrangedor e é uma intromissão na privacidade de todos.
O nosso papel enquanto pais não se esgota no amor e carinho que lhes damos, na educação, princípios e valores que lhes transmitimos, nem nas necessidades básicas que lhes suprimos. 
É também, por um lado, essencial que os respeitemos como seres humanos, com características, gostos e idiossincrasias próprias, e, por outro, que estejamos atentos aos seus comportamentos e atitudes. Só assim nos será possível identificar sinais de alarme.
A adolescência é um período particularmente complexo na vida das pessoas. É nessa fase que a personalidade se define completamente. Já não se é criança, mas também ainda não se é adulto. O mundo é um lugar a descobrir, com muitas maravilhas, solicitações, exigências, possibilidades. Mas, também pode ser um lugar cruel e inóspito, em que o adolescente não se encontra integrado. 
Esta é uma fase crucial do crescimento e muitas vezes crescer dói. Ser adolescente ou jovem não é sinónimo de ser feliz. 
É também nesta fase que muitos jovens se perdem para as drogas, para gangues ou grupos duvidosos, ou isolando-se de uma sociedade que não os aceita ou em que eles se sentem desconfortáveis.
Esteja atento ao seu filho/a, apoie-o, observe os seus comportamentos, o se olhar e estabeleça com ele uma relação de confiança e respeito. Não o denigra, não o humilhe, nem o compare negativamente com outros, pois se ele se encontrar meio perdido e não encontrar na família apoio, respeito ou alguém em possa confiar e com quem possa falar de coração aberto, sem medo de represálias, provavelmente escolherá um caminho mais "fácil", onde possa encontrar o respeito e valorização que procura.
Claro que o/a deverá chamar à atenção ou mesmo castigar quando ele/a erra. Isso faz parte da educação que todos os filhos têm o direito de receber dos pais.
Mas, não use os seus filhos para descarregar as suas frustrações, ou projetar as suas ambições. O seu filho/a é um ser humano tão complexo quanto você, com personalidade, sentimentos, gostos, medos e desejos próprios. A si cabe-lhe educá-lo e guiá-lo, usando sempre o bom senso. Mas, para o poder fazer, tem que conhecê-lo, tentar compreendê-lo, aceitá-lo com os seus defeitos ou limitações e estar atento a todos os sinais que denotem que algo não está bem com ele.

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