LIBERDADE OU ECONOMICISMO?



A grande maioria dos países do Ocidente tem sistemas políticos democráticos, logo os seus cidadãos vivem em liberdade.
À primeira vista, poderíamos dizer que esta premissa está correta, mas, será que é verdadeira?
A Liberdade pode ser definida como a qualidade que permite aos indivíduos terem controlo sobre as suas ações.
No entanto, a Liberdade é um tema da filosofia que sempre gerou controvérsia.

Segundo Descartes, age com mais liberdade quem melhor compreende as alternativas que precedem à escolha. 
Já para Spinoza, a liberdade possui um elemento de identificação com a natureza do "ser". Nesse sentido, ser livre significa agir de acordo com sua natureza.
Na perspetiva de Leibniz, o agir humano é livre a despeito do princípio de causalidade que rege os objetos do mundo material.
Schopenhauer entende que a ação humana não é absolutamente livre. Todo o agir humano, bem como todos os fenómenos da natureza, até mesmo suas leis, são níveis de objetivação da coisa-em-si kantiana, que o filósofo identifica como sendo puramente Vontade.
Inversamente Jean-Paul Sartre considera que a liberdade é condição ontológica do ser humano. O homem é antes de tudo livre.
Enquanto Karl Marx entende a liberdade humana como a constante criação prática pelos indivíduos de circunstâncias objetivas, nas quais despontam as suas faculdades, sentidos e aptidões (artísticas, sensórias, teóricas...), criticando assim as conceções metafísicas da liberdade.
No livro A Sociedade do Espetáculo, Guy Debord, ao criticar a sociedade de consumo e o mercado, afirma que a liberdade de escolha é uma liberdade ilusória, pois escolher é sempre escolher entre duas ou mais coisas prontas, isto é, pré-determinadas por outros. Uma sociedade como a capitalista, onde a única liberdade que existe socialmente é a liberdade de escolher qual mercadoria consumir, impede que os indivíduos sejam livres na sua vida quotidiana. 
Por outro lado, Philip Pettit para a construção de uma Teoria da Liberdade, que traz consigo implicações práticas para a consecução das finalidades de uma Democracia e que explica a sua estrutura na sua “melhor luz”, inicia a sua abordagem pela ótica da liberdade da vontade. Para tanto, resgata as ideias desenvolvidas por Immanuel Kant quando posto diante da seguinte indagação: existe liberdade da vontade? Fonte Wikipédia

Ao analisar as diferentes perspetivas filosóficas relativas à Liberdade, deparamo-nos, acima de tudo, com as opiniões dos filósofos, baseadas na sua forma pessoal de observar e analisar uma mesma realidade.
Será que a Liberdade existe? Ou é apenas um "desejo", próprio do Homem, de almejar a utopia?
Desde os primórdios da humanidade, as relações entre os homens foram sempre, acima de tudo, relações de poder. 
Poder esse que, inicialmente, assentava, principalmente, na força e capacidades físicas aliadas, muitas vezes, à coragem e à inteligência, ou, ainda, a características particulares envolvendo o misticismo, a magia ou o curandeirismo. 
Contudo, esse poder foi sendo progressivamente transferido para aqueles que detinham maior quantidade de bens e, seguidamente, para aqueles que detinham maior poder económico. Situação que se mantém nas sociedades atuais, qualquer que seja o regime político dos diferentes países. 
Vivemos, pois, num mundo economicista.

Economicismo é um termo utilizado para criticar o reducionismo económico, que é a redução de todos os factos sociais a dimensões económicas. Também é usado para criticar a economia enquanto ideologia, na qual a oferta e a procura são os únicos fatores importantes na tomada de decisões, e literalmente se sobrepõe ou permite ignorar todos os outros fatores. O economicismo parte da premissa de que os fatores económicos são os fatores decisivos, os mais importantes e fundamentais para a vida individual e social. Desse modo, todas as demais atividades e valores que escapam ao império da lógica económica são considerados como secundários, acessórios e até mesmo supérfluos. Fonte Wikipédia

Assim, se tudo for reduzido à dimensão económica, todos aqueles que não forem detentores de um poder económico relevante vivem no medo de perder, ou não conseguir obter, uma capacidade económica que lhes permita desfrutar de uma vida de "qualidade". Esse medo será tanto mais significativo, quanto maior for a sua ambição e /ou necessidades específicas.
Por outro lado, quando menos instruídos forem os povos, mais facilmente os detentores do poder os condicionam e atemorizam.
Assim, poder-se-á dizer que o medo aquece e faz ferver a ignorância e, desta reação, só poderá resultar o ódio.
Esse ódio conduz à desunião e às guerras, o qual é aproveitado, pelos poderosos, para condicionar as emoções e irracionalidade das pessoas.
Esse condicionamento revela-se tanto nas manifestações de massas, informes e desprovidas de bom senso e inteligência, como na proliferação de delatores, que traem e prejudicam os vizinhos, colegas, amigos ou mesmo familiares, ou ainda nas guerras entre irmãos (cidadãos de um mesmo país), ou entre países vizinhos, as quais servem só e apenas os interesses e objetivos dos poderosos.
Assim, a Liberdade será sempre relativa e dependerá das diferentes condicionantes da vida social, política, económica, profissional e familiar de cada cidadão e, ainda que este viva num país onde exista liberdade de expressão (democracia), na verdade, a única, verdadeira e absoluta liberdade que terá, será sempre a liberdade de pensamento.
Enquanto seres pensantes, seremos seres livres. 
Mas, só o seremos de facto se formos capazes de formar opiniões e tomar decisões com base no estudo, investigação e conhecimento dos factos, suas causas e consequências, utilizando, tanto quanto nos for possível, a sensatez, equidistância, racionalidade, imparcialidade e objetividade.
As emoções, os traumas, frustrações ou ódios pessoais nunca nos permitirão alcançar a Liberdade, pois fazem-nos perder a perspetiva, atrasam-nos e condicionam-nos.
Mas, os sentimentos e as emoções são, quando bem direcionados e utilizados, os mais poderosos veículos para nos conduzir à Liberdade, não só de pensamento, mas também vivencial.
No dia em que formos capazes de ser suficientemente livres para sermos unidos, nesse dia, alcançaremos a Liberdade.

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