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Considero que só conseguiremos entender o presente se conhecermos e refletirmos sobre o passado, as circunstâncias do mesmo e diversos outros condicionalismos, nos quais se incluem as características geográficas dos países e as personalidades dos povos.


Conta a lenda que  um general romano em serviço na Ibéria, escreveu a seguinte queixa, em carta enviada ao Imperador. «Há, na parte mais ocidental da Ibéria, um povo muito estranho: não se governa, nem se deixa governar!»
Esta frase é atribuída ao General Galba, que teria sido um dos primeiros governadores romanos na Península Ibérica, no Séc III antes de Cristo.», e coloca-me, à partida, a seguinte questão:

- Qual povo? Os Galaicos, os Astures, os Vetões, os Lusitanos, os Célticos ou os Cónios?

Talvez que, o que está por trás desta questão, nos ajude a compreender melhor a realidade que nos cerca.

A Península Ibérica, ou Ibéria, foi, desde a pré-história, ocupada por uma enorme diversidade de povos, muitos deles vindos de terras longínquas.

Talvez atraídos pelas suas características e localização geográfica. Uma Península com apenas uma fronteira (natural) terrestre, os Pirenéus, o clima temperado (ameno), a riqueza  do subsolo, a sua imensa fronteira marítima, que abrange o Oceano Atlântico e o Mar Mediterrâneo.

Esta ocupação da Península, por diferentes povos, originou uma enorme miscigenação, à qual não foram estranhos os Romanos, os povos germânicos, (suevos, vândalos, alanos, visigodos) após a queda do Império Romano, os Mouros (muçulmanos), os ciganos, os judeus ou os franceses.

A heterogeneidade de características, físicas, psicológicas, religiosas, morais, etc., acabou por dar origem a um povo original, o povo português.




Reflitamos agora na originalidade deste povo.

  • O povo Lusitano, comandado por Viriato, foi um dos povos que ofereceu maior resistência à ocupação Romana;.
  • A maior divisão da Península Ibérica deu-se após a morte do conde D. Henrique, a quem o Rei de Leão e Castela concedera o Condado Portucalense, quando o seu jovem filho, D. Afonso Henriques, lutando contra os Mouros e a sua própria mãe, fundou Portugal;
  • A partir deste acontecimento, as diferenças entre os portugueses e os restantes habitantes da Península Ibérica acentuaram-se, pois, enquanto o Reino português expulsou, definitivamente, os Mouros de Portugal, mais concretamente do Algarve, onde se encontravam os últimos ocupantes, em 1249, o restante território, a atual Espanha, apenas se conseguiu libertar dos Mouros duzentos e tal anos depois, o que ainda hoje é detetável nas fisionomias e outras características dos “nuestros hermanos”;

  • Ainda não eram passados 200 anos sobre a colocação dos alicerces do recém-nascido      Portugal e da expulsão dos Mouros, já os portugueses sonhavam com novos desafios e conquistas, iniciando-se em 1415 a grande saga dos Descobrimentos, a qual se prolongou até 1543.
  • Portugal foi pioneiro na abolição da escravatura (1761) e da pena de morte (1852 – 1867); 
  • Portugal teve em 1974 uma Revolução sem mortos, nem feridos, a qual ficou conhecida pela Revolução dos Cravos;
  • Acolhemos todos os povos, invasores ou imigrantes. com uma placidez e bonomia que nos caracteriza mas, quando consideramos que nos tolhem demasiado o crescimento e a liberdade, expulsamo-los sem hesitação, assim foi com os Mouros, os Espanhóis ou os Franceses;

Contudo, apesar de todos estas caracterísiticas e feitos, Portugal nunca foi capaz de retirar de nenhum deles os dividendos adequados.

Embora, tenhamos sido os grandes descobridores do mundo e tenhamos criado um Império, nunca soubemos aproveitar essa supremacia, tendo sido outros países europeus a ficar com os maiores dividendos.

Ainda que tenhamos tido grandes “cabeças”, em todas as áreas do saber e das artes, nunca utilizámos essa mais-valia de forma a tornarmo-nos num país com maior importância e poder negocial.

Perdemos a corrida da evolução científica e tecnológica, iniciada com a Revolução Industrial, na Grã-Bretanha.

Perdemos a corrida da educação, sendo a taxa de analfabetismo em 1870 superior a 70% e em 2001 ainda se situava acima dos 11%.

A Primeira República, a qual é impossível de dissociar do assassinato do Rei e do Príncipe, resultou em 16 anos de divisões entre republicanos, crimes, corrupção e miséria do país, o que conduziu, naturalmente, ao nascimento de uma ditadura.

O Estado Novo, pela mão forte do seu principal protagonista, Salazar, equilibrou rapidamente as finanças do país, construiu escolas de Norte a Sul, apoiou o desenvolvimento da indústria, não permitiu que participássemos na II Grande Guerra, mas, por outro lado, como estado protecionista que era, fechou-se à Europa e ao mundo, desincentivando o investimento estrangeiro. Teimosamente permitiu e manteve a Guerra Colonial, ao invés de negociar uma solução de consenso, que nos beneficiasse.

A Revolução do 25 Abril atirou-nos para a Europa, para o seu crescimento, desenvolvimento, educação, etc, mas elevou exponencialmente o desgoverno, a má gestão, a corrupção, a má-fé, os abusos de confiança, os lobbies, ou os negócios escuros.

Porque somos assim? Porque somos tão diferentes daquele que conotamos, agora, como nosso principal inimigo, a Alemanha?

Porque as nossas características enquanto povo são essas mesmas, as quais provavelmente se devem à heterogeneidade das nossas origens.

Somos um povo de brandos costumes, humanista, aventureiro. Da maior desgraça fazemos uma anedota. Temos essa extraordinária capacidade de nos rir de nós próprios. De reconhecer o ridículo das situações. E, tudo isso, faz com que não nos levemos muito a sério.

Entregamo-nos com paixão a causas e aventuras, mas somos avessos à “manutenção”, ao espírito militante e militar.

Somos os nossos maiores críticos e, porque as nossas características particulares nunca nos permitiram manter diálogos, em pé de igualdade, com os países mais ricos e poderosos da Europa, sofremos de uma espécie de complexo de inferioridade, em relação à Europa, que nos limita e atrofia.



As nossas extraordinárias qualidades não têm capacidade de competir com o complexo de superioridade do povo alemão, o qual tão bem se revela na sua Mitologia, nem com o seu espírito de união, por um objetivo comum, bem patente na reconstrução física e financeira da Alemanha, após a II Grande Guerra. Nem tampouco, nos permite negociar, de forma equiparada, com os insulares britânicos, a quem sempre acabamos por ceder, em quase todas as situações, sendo as negociações do Mapa Cor-de-Rosa  um bom exemplo dessa incapacidade.

A evolução da ciência e da tecnologia, no século XX, foi imparável. 
Num piscar de olhos, o trabalho em cadeia, inventado por Ford, tornou-se obsoleto e progressivamente os homens foram substituídos pelas máquinas.
A Revolução Industrial terminou e iniciou-se a Revolução Pós-Industrial.
A máquina económica do capitalismo entrou em roda livre. Subitamente as maiores transações monetárias tornaram-se virtuais e qualquer um, com acesso a um computador, passou a poder transferir milhões de dólares ou euros, em segundos, de um lado para o outro do mundo, quase sem deixar rasto. O que veio facilitar a corrupção e o crescimento de grandes grupos económicos, que dominam o mundo de acordo com os seus interesses.
Os problemas ambientais dispararam e as soluções para os mesmos não são completamente eficazes e são sempre excessivamente caras.
A Europa uniu-se financeiramente e noutros domínios, com o objetivo de ganhar poder para negociar e dividir o mundo com o gigante americano. Nasceu o Euro.
Uma década após o seu nascimento deu-se o colapso económico do mundo ocidental
Quem havemos de culpar? O Euro, claro.  Como se o facto de uma moeda se chamar Euro, Escudo ou Libra e ser usada por um milhão, cem milhões, ou trezentos milhões de pessoas, a pudesse tornar culpada da derrocada de um sistema económico e laboral.
Portugal já não é Império. É, apenas, um pequeno país, à beira-mar plantado, sem uma indústria, agricultura, educação e economia que lhe permitam fazer frente ou negociar, em igualdade de circunstâncias, com a maioria dos países europeus
O país é pequeno, os portugueses desunidos, com tendência para se armarem em "chicos espertos" e  com pouca aptidão para projetarem a longo, ou mesmo médio, prazo. Preferindo os ganhos grandes e a curto prazo.
A indústria é, ainda, insuficiente, os custos de produção elevados e a mão-de-obra cara, ainda que não resulte em salários elevados
A agricultura, já de si uma atividade ingrata, porque dependente das idiossincrasias do clima, das pragas e, desde a UE, também dos subsídios, é, em Portugal, ainda muito uma agricultura de subsistência.
O amanhã se verá e o temos que nos conformar é uma atitude tão portuguesa, quanto o inventar anedotas acerca de todos os acontecimentos, por mais trágicos que sejam.
Os portugueses são conhecidos por trabalhar muito no estrangeiro e serem subsídio-dependentes em Portugal.  Alguns insurgem-se contra esta afirmação. No entanto, mais uma vez, ela vem corroborar as características deste povo. Emigrar é uma aventura, uma causa e uma paixão, portanto todos os que iniciam esta aventura estão, à partida, munidos do fundamental para saírem vitoriosos. Já trabalhar no país representa monotonia, obrigação, "manutenção", coisas para as quais os portugueses têm muito pouca vocação. 



Olhemos os factos de frente.

O mundo ocidental e o capitalismo estão a passar por uma enorme crise.
A globalização, com todos os seus defeitos e virtudes, é um facto indesmentível e incontornável.

A Europa é constituída por uma grande quantidade de países, muito diferentes entre si, com uma história marcada por guerras e competições e, portanto, com poucos pontos que os unam entre si.
Os países mais ricos e poderosos da Europa são-no há mais de três ou quatro séculos.

Portugal não soube aproveitar os dinheiros da UE para crescer  técnica, industrial, económica e financeiramente, continuando a ser um parente pobre dos europeus.

Agora, temos que pagar as nossas dívidas, mas não temos poder negocial, porque, para que esse poder exista, é necessário que tenhamos poder económico ou qualquer tipo de bem ou serviço necessário aos outros, coisa que não acontece.

Muitos são da opinião de que deveríamos sair do euro e voltar ao escudo.

Na minha opinião, esse seria um erro terrível, porque a dívida permaneceria, as benesses, poucas, que temos da UE deixariam de existir e o regresso ao escudo, ou a criação de qualquer outra nova moeda, apenas nos faria ficar mais pobres, porque não teria quase valor em relação ao dólar, à libra e ao euro e, embora isso pudesse ser uma atrativo para outros países investirem e instalarem indústrias no país, deixar-nos-ia sem possibilidade de importar a maioria dos bens, alguns deles imprescindíveis,  ao mesmo tempo que perderíamos muitos mercados, aos quais vendemos os nossos bens e serviços, porque as características dos mesmos pressupõem-se que para nos comprarem algo, têm também que nos vender qualquer coisa, ou ter qualquer outra contrapartida.
A minha proposta de solução para a crise? Não tenho soluções mágicas.
Mas sei que ela passa por agarrar no melhor que há neste povo tão original.

  • A capacidade de rir, ridicularizar e ironizar ;
  • A capacidade de se adaptar;
  • A capacidade de se apaixonar;
  • A capacidade de partir à aventura;
  • A capacidade de lutar por causas; 
  • A capacidade de imaginar e inventar;
  • A capacidade de investigar e criar;
  • O seu humanitarismo;
  • O seu "coração mole"; 
  • A sua capacidade, algo duvidosa, mas que pode ser útil, de "chico-esperto"
Acham estas virtudes poucas? Eu acho-as extraordinárias e acho que são exatamente estas virtudes que nos conduzirão à vitória, através de:
  • Novas ideias que conduzam a novos áreas de negócios ou à invenção de novos produtos;
  • Solidariedade para com os que se encontrem em maiores dificuldades;
  • Trabalho árduo por uma causa, reerguer Portugal;
  •  Adaptação a novas realidades;
  • Investimento na modernização da agricultura, em novos tipos de turismo, em novos produtos, ou novas imagens dos mesmos, nas TIC,...
Tal como tenho a certeza de que, logo que paguemos o grosso da dívida e que comecemos a caminhar com mais facilidade, voltaremos aos nossos brandos costumes, pois, afinal, essa é a personalidade deste povo e não vai ser uma crise, grande ou pequena, que a vai alterar.
Seremos sempre iguais a nós próprios. Foram essas nossas características que deram origem ao "nascimento" deste país e serão elas que nos permitirão continuar a ser Portugal, este que é um dos países mais antigos da Europa.
Nunca seremos iguais aos alemães, os "superiores" arianos, ou aos Britânicos,  os "insulares". 
Seremos nós, porque é o sermos  "nós" que nos define, que nos sustenta, que nos dá força e que nos permite existir.





P.S. - Porque considero que devemos partilhar informações e emitir opiniões  sempre e quando estamos de posse do maior número de dados possível, partilho dois links importantes:



Wolfson Economics Prize


Leaving the euro. - A practical Guide

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